21/08/2018
A OMS (Organização Mundial da Saúde) propõe que a década 2020-2030 tenha como foco o envelhecimento saudável. Para isso acontecer, é preciso repensar o que significa envelhecer. A própria entidade já prega que o envelhecimento saudável não é ausência de doença, e sim a preservação da capacidade funcional que garanta a independência do indivíduo, capaz de realizar tarefas diárias como vestir-se, tomar banho, desincumbir-se de tarefas domésticas ou fazer compras. É muito bacana ver alguém de 80 anos correndo uma maratona, mas isso é exceção. A regra deveria ser a oportunidade de todas as pessoas com 80 se sentirem ativas, independentes e prestigiadas, e não cidadãos de segunda classe.
Vamos ter que rever as políticas públicas que estão em vigor, porque elas são inadequadas para os desafios do século 21. No que diz respeito ao sistema de saúde, a estrutura de que dispomos vai na contramão da sustentabilidade, porque ainda se apoia num modelo voltado para a doença: internações, tratamentos e cura (para os que têm sorte de conseguir tudo isso). Como garantir que as pessoas tenham acesso a serviços de prevenção para evitar ou retardar enfermidades que depois se tornam de manejo mais difícil? Nesse caso, não se trata apenas de hipertensão ou diabetes, mas também de problemas urológicos, de visão e audição, ou perda de massa muscular – todos impõem severos limites e comprometem a qualidade de vida dos idosos. As inovações tecnológicas que possibilitam o monitoramento à distância terão que ser incorporadas a toque de caixa para diminuir o número de atendimentos e internações.
É bom parar e pensar no cuidado, essa categoria que se tornará cada vez mais onipresente. Nos Estados Unidos, 61% dos trabalhadores acima dos 48 anos relatam que o fato de serem responsáveis por um idoso da família gera atrasos no trabalho, pedidos para sair cedo, ou perda de oportunidades de promoção. São adultos em plena fase produtiva que ficam sobrecarregados e tratam mal da própria saúde: estudos mostram que quem tem essa tarefa relata o dobro de doenças crônicas em relação a quem não tem. O mundo corporativo ainda ignora solenemente essa questão, que permanece invisível, mas não será por muito tempo. Idosos que cuidam de idosos mais velhos e frágeis: essa já é uma realidade em países como Japão e cresce como uma modalidade de voluntariado nos EUA – eles funcionam como uma companhia contra a solidão, ajudam em pequenas tarefas e garantem estímulo mental e atividades ao ar livre.
No começo de agosto, foi realizada no Canadá a 14ª. Conferência Global sobre Envelhecimento, alinhada com as diretrizes da OMS. Há cinco objetivos estratégicos a serem alcançados: engajamento de todos os países com ações voltadas para o envelhecimento saudável da população; criação de ambientes “amigos do idoso” nas cidades; enquadramento dos sistemas de saúde para atender às necessidades dos mais velhos; desenvolvimento de serviços de cuidados de longo prazo, como centros comunitários e instituições; aperfeiçoamento da medição e do monitoramento de dados. Tarefa hercúlea, que depende da mobilização da sociedade. Afinal, um dia todos nos encontraremos nessa situação.
Fonte: G1