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Brasileiros pagaram R$ 27 bilhões em tarifas bancárias em 2017

01/03/2018

Milhões de clientes do Banco do Brasil, Bradesco, Itaú, Santander e Caixa pagam dezenas de tarifas de conta enquanto poderiam economizar bilhões abrindo contas em corretoras e bancos digitais

O consultor de vendas Alberto Gzzo Filho manteve durante muito tempo uma rotina mensal desgastante. Correntista do Banco do Brasil desde 2009 e do Bradesco desde 2013, sempre que precisava enviar dinheiro para alguém que tinha conta em outros bancos ele ia até um caixa eletrônico, fazia um saque e levava a quantia consigo até o banco, para então realizar o depósito na conta da pessoa. Tudo isso para fugir da tarifa de TED, que no Bradesco custa R$ 9,70 pela internet e no Banco do Brasil sai por R$ 9,40.

Como fazia isso mais de 10 vezes por mês, para evitar um gasto anual absurdo com o pagamento de tarifas de TED, Alberto se expunha ao risco de assaltos e tinha o inconveniente de precisar se locomover até os caixas eletrônicos várias vezes por mês. Assim como ele, milhões de brasileiros precisam fazer malabarismos para fugir de tarifas como essa.

Enquanto uma TED pode ser feita em menos de um minuto pelo internet banking, o deslocamento entre caixas eletrônicos para sacar e depositar pode levar horas – isso se o banco da pessoa que vai receber tiver agência na sua cidade. Sem contar o perigo de andar por aí com dinheiro no bolso. “Eu só fazia esse tipo de coisa com valores de no máximo R$ 1 mil. E sempre tomei muito cuidado para evitar ser assaltado”, diz o consultor.

Quando tinha que fazer transferências de valores mais altos, ele preferia não se arriscar e pagava os R$ 9,70 cobrados pelo banco. A verdade é que clientes como Alberto contribuíram muito para rechear os cofres do Bradesco em 2017 – só no ano passado o banco teve um lucro líquido de R$ 19 bilhões.

Apenas as tarifas cobradas por serviços da conta corrente, que engloba o envio de DOC e TED, assim como saques em caixas eletrônicos, extratos, emissão de folhas de cheque e tarifas de manutenção de conta, geraram uma receita de R$ 6,658 bilhões para o Bradesco no ano passado, 10% a mais que o banco faturou em 2016 com estes mesmos serviços.

Mas é claro que o banco da Cidade de Deus não é o único que fatura alto com a cobrança de tarifas. Um levantamento do InfoMoney mostra que os 5 maiores bancos do país tiveram juntos uma receita R$ 27,3 bilhões com tarifas de conta corrente em 2017.

Esse valor bilionário refere-se apenas a serviços de conta corrente – olhando o balanço dos bancos, não é possível identificar todas as mordidas que os brasileiros tomam dos bancos em um nível maior de detalhe. Ou seja, o valor total de tarifas pagas pelos brasileiros é, na verdade, ainda muito maior.

O recordista é o Banco do Brasil, com a cobrança de R$ 6,956 bilhões em tarifas referentes a conta corrente no ano passado, seguido por Itaú (R$ 6,761 bilhões), Bradesco (R$ 6,658 bilhões), Caixa (R$ 4,106 bilhões apenas até setembro – o banco ainda não divulgou o balanço do último trimestre) e Santander (R$ 2,901 bilhões). “Essa é uma parte importantíssima das receitas de um banco”, diz um analista que cobre o setor.

A receita é tão importante que os bancos não pensam duas vezes antes de aumentar as tarifas de conta. Um estudo do Idec (Instituto de Defesa do Consumidor) divulgado no final do ano passado mostrou que os preços dos serviços bancários (tarifas avulsas e pacotes de serviços) desses cinco bancos tiveram aumentos muito acima da inflação entre outubro de 2016 e novembro de 2017.

Entre os 58 pacotes de tarifas oferecidos pelos cinco bancos, 47 sofreram aumento de preço. A Caixa, por exemplo, reajustou todos as cestas entre 10,71% e 78,88%. No mesmo período, a inflação acumulada (Índice de preços amplo ao consumidor – IPCA) ficou em 2,70%.

O que para os banqueiros é uma mina de ouro, para o cliente é um ralo por onde o dinheiro escoa sem parar. Por exemplo, o cliente que tem conta em algum destes cinco bancos paga entre R$ 36,80 e R$ 39 por mês para ter um pacote de tarifas que engloba itens como 3 DOCs/TEDs, 8 saques e três extratos.

Faça as contas. No caso de alguém como Alberto, que realiza 10 TEDs por mês no Bradesco, o gasto mensal seria de R$ 106,80. Isso porque o banco cobra R$ 38,90 por mês pelo pacote de tarifas que engloba três TEDs. O cliente então precisaria pagar por fora as outras sete transferências, totalizando mais R$ 67,90 em um mês. Em um ano, a pessoa paga para o banco nada menos do que R$ 1.281 apenas com estas transações. Isso sem contar outras operações que poderiam ter custos adicionais, como saques, extratos, etc.

Entenda as tarifas

Todos os bancos são obrigados pelo Banco Central a oferecer alguns serviços sem nenhum tipo de cobrança. Entre eles estão quatro saques por mês, duas transferências entre contas da própria instituição, dois extratos e 10 folhas de cheque. Além disso, consultas a saldos e extratos pela internet também são isentos de tarifas. Fora isso, fica a critério dos bancos os valores de cobrança por cada transação efetuada na conta corrente.

No caso das TEDs e DOCs, por exemplo, os valores ficam na faixa entre R$ 9 e R$ 10 quando feitos pela Internet ou por canais alternativos, como o telebanco. Já o cliente que resolve fazer um DOC ou TED no guichê do caixa paga R$ 18,85 pela operação no Banco do Brasil, R$ 17,90 no Itaú e R$ 17,40 no Santander. Pelos saques que excederem o limite isento pelo BC, o cliente do Santander precisa desembolsar R$ 2,40, enquanto o correntista da Caixa paga R$ 2,10 e o do Banco do Brasil R$ 2,15.

Os bancos também oferecem pacotes de serviços que englobam uma série de transações por mês e pelos quais os clientes pagam valores fixos mensais. Entre os pacotes, 4 são padronizados, ou seja, todos os bancos precisam disponibilizá-los e as transações inclusas são iguais em todos eles. Já a cobrança por cada pacote varia de banco para banco, como mostram as tabelas a seguir:

Você pode ter os mesmos serviços sem pagar nada

Ter uma conta corrente é imprescindível para qualquer pessoa e abandonar de vez os bancos para fugir das tarifas está fora de questão. Mas você pode migrar dos grandes bancos de varejo, como o Itaú, Santander, Caixa, BB e Bradesco, para instituições financeiras digitais, que oferecem todos os serviços de conta corrente e mais alguns outros sem nenhuma cobrança de tarifa.

Foi justamente isso que fez Alberto, que há 8 meses decidiu encerrar sua conta no Banco do Brasil, transformar a conta do Bradesco apenas em conta salário (para receber o pagamento da empresa e nada mais) e abriu uma conta no Banco Inter, um banco digital que não cobra nenhuma tarifa. “Agora eu realizo em média 15 TEDs por mês e o meu custo é sempre zero”, afirma o consultor de vendas. Ele saca quantas vezes quiser na rede 24 horas, assim como consulta extratos, também gratuitamente.

Algumas instituições que oferecem taxa zero são:

– Neon e banco Inter não cobram por serviços de conta corrente como pacote de serviços, TED, DOC, saque, extrato, transferências, etc.;

– Nubank, Digio, Credicard e banco Inter têm cartão de crédito sem anuidade;

– XP, Rico e Clear cobram zero de custódia para investimentos em Tesouro Direto, ações, fundos imobiliários, títulos de renda fixa e outros investimentos;

– Rico cobra taxa de corretagem zero para negociação de fundos imobiliários;

– XP, Rico e Clear cobram taxa zero na TED para envio do dinheiro de volta ao banco;

– Clear cobra apenas R$ 0,80 por ordem na corretagem de ações;

Uma pegadinha comum nos grandes bancos é que muitas vezes o cliente decide trocar a instituição tradicional por outra digital, mas o gerente do banco tenta convencê-lo a ficar dizendo que dará “serviços gratuitos mediante condições”. O truque é o seguinte: o gerente oferece um pacote de serviços “gratuito” para o cliente, desde que ele mantenha aplicações financeiras no banco.

Neste caso, o prejuízo é ainda maior. Isso porque os bancos de varejo cobram taxas exorbitantes em fundos de investimentos e o cliente acaba pagando muito mais de taxa de administração do que pagaria no próprio pacote de tarifas, como mostrou uma reportagem exclusiva do InfoMoney publicada este mês.

A solução ideal, portanto, é abrir uma conta em um banco digital para as operações do dia a dia da conta corrente: pagar contas, fazer transferência, realizar depósitos e saques, etc. Ao mesmo tempo a pessoa deveria abrir uma conta em uma grande empresa de investimentos para também economizar enormemente no pagamento de tarifas com o dinheiro que está sendo poupado para o futuro.

“Se você escolher um banco pequeno para gerenciar a sua conta corrente e deixar seu investimento em um lugar realmente robusto e seguro, você tem o melhor dos dois mundos. Tem uma conta digital barata e o seu dinheiro fica em um lugar sólido e que oferece boas opções de investimento”, diz o economista Luiz Fernando Roxo, que apresenta o programa Riqueza Pessoal na InfoMoneyTV e também é professor do InfoMoney Educação.

É importante lembrar que alguns bancos de varejo tinham adotado há alguns anos o modelo de conta digital com isenção de uma grande quantidade de tarifas. No entanto, essas contas eram muito pouco divulgadas para os clientes e os bancos optaram por descontinuar o serviço entre 2016 e 2017.

“Curiosamente, no mesmo período em que as contas digitais foram suspensas, a última pesquisa de sobre tecnologia bancária, divulgada pela Federação Brasileira de Bancos (Febraban), indica que o uso dos meios digitais para serviços financeiros em 2016 alcançou 21,9 bilhões de transações representando um crescimento de quase 100% em relação ao ano anterior”, aponta o Idec.

Os clientes que já tinham as contas com isenções de tarifas antes do encerramento tiveram os benefícios mantidos. Já quem optar agora por uma conta digital nos maiores bancos de varejo do país vai ter que arcar com a cobrança de muitas tarifas. O Itaú oferece conta nesse modelo, mas sem vantagens em termos tarifários, o que faz pouco sentido para o cliente. O BB tem a Conta Fácil, mas a soma dos créditos recebidos não pode ultrapassar R$ 5 mil por mês e há cobrança de tarifas para realização de DOCs e TEDs.

Há poucos meses o Bradesco lançou o Next, uma conta digital que também tem isenção de tarifas com o plano Na Faixa. No entanto, o cliente tem direito a apenas uma TED ou DOC por mês. Os demais são cobrados no mesmo valor do banco de varejo, a R$ 9,70 por operação. Já o Santander tem o Superdigital, que também cobra tarifas dos seus clientes.

O que dizem os bancos

Todos os bancos foram procurados pelo InfoMoney. Após diversos contatos com a assessoria de imprensa do Bradesco questionando a ausência de um pacote de tarifas que englobasse uma quantidade maior (ou ilimitada) de TED, a reportagem foi informada na manhã desta sexta-feira (23) que o banco decidiu incluir a partir de 1º/03/2018 a opção de Cesta de Serviços com TED ilimitada, sem cobrança de tarifa adicional.

“Essa Cesta será negociada de acordo com o perfil e a necessidade do cliente e seu valor pode chegar a isenção, conforme relacionamento que o cliente mantém com o banco”, disse o Bradesco, em nota.

Também em nota, o Santander informou que “os preços e os reajustes das tarifas dos pacotes de serviços visam a acompanhar os movimentos do mercado e a inflação do período referente à última alteração. Vale ressaltar que o Banco oferece orientações sobre as melhores alternativas de utilização dos serviços, conforme a movimentação usual e as necessidades financeiras dos clientes, inclusive a opção de uso gratuito de determinados serviços da conta corrente.”

Já o Banco do Brasil disse que avalia permanentemente os custos dos serviços disponibilizados aos clientes para assegurar que os preços praticados em tarifas estejam entre os mais competitivos do mercado.

“Mantendo o compromisso de transparência e respeito aos clientes, o BB disponibiliza mensalmente o extrato de serviços (via internet, TAA e mobile), no qual apresenta o valor do pacote contratado (se houver), a franquia de serviços incluída no preço e os serviços efetivamente consumidos em cada período, para que cada cliente possa avaliar, permanentemente, a relação custo x benefício”, disse o banco.

O Itaú afirmou que busca sempre manter a melhor relação custo-benefício para o cliente e que os reajustes realizados levam em consideração a inflação, custos operacionais e características de cada pacote ou serviço. “Importante reforçar que mantivemos ao longo destes anos nosso posicionamento de ter preços competitivos no mercado, sem abrir mão de oferecer aos clientes qualidade de serviço e produtos de valor agregado”, afirmou o banco, em nota.

A Caixa não respondeu até a publicação da reportagem.

Fonte: CONTEC

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