Um estudo divulgado nesta quarta-feira (25) revelou que quando confrontados com um desafio mental enquanto fazem uma caminhada, por exemplo, os homens têm alguma alteração no movimento, o que não acontece com a maioria das mulheres, reabrindo o debate sobre as diferenças cerebrais entre os gêneros.
Caminhando em uma esteira ergométrica, homens – e mulheres com mais de 60 anos – passaram a balançar menos o braço direito quando confrontados com um teste de linguagem complicado, descobriram os pesquisadores.
Acredita-se que tanto a função da linguagem como o balanço do braço direito são controlados principalmente pelo hemisfério esquerdo do cérebro.
“As mulheres com menos de 60 anos pareciam resistentes a esse efeito, visto que eram capazes de realizar a tarefa verbal sem mudanças no balanço do braço”, disse a coautora do estudo Tim Killeen, neurocientista do Hospital Universitário Balgrist, na Suíça.
“Nos homens e nas mulheres mais velhas, a tarefa verbal parece sobrecarregar o hemisfério esquerdo, na medida em que o movimento do braço direito é reduzido”, acrescentou.
Os resultados “inesperados” foram publicados na revista científica “Royal Society Open Science”.
“Ficamos surpresos de encontrar uma diferença de gênero tão consistente na forma como dois comportamentos relativamente simples – controle cognitivo e balanço do braço – interagem entre si”, disse Killeen à AFP.
A equipe usou câmeras infravermelhas para registrar os padrões de caminhada na esteira em 83 pessoas saudáveis, com entre 18 e 80 anos.
Os participantes foram convidados a caminhar – primeiro normalmente e, em seguida, enquanto executavam uma tarefa verbal chamada teste Stroop.
Desenvolvido na década de 1930, o teste consiste na impressão do nome de uma cor, como “vermelho”, em tinta de uma cor não correspondente – verde, por exemplo. Em seguida, pede-se a uma pessoa que olhe para a palavra e diga qual é a cor da tinta.
Melhores na linguagem?
O teste é difícil, explicou Killeen, porque o cérebro humano “vê” tanto a palavra escrita como a cor da tinta, e deve conciliar as duas.
Durante uma caminhada normal, os braços esquerdo e direito balançaram igualmente.
“Quando adicionamos a tarefa verbal, observamos que em homens de todas as idades e em mulheres acima de 60 anos, essa simetria foi rompida, com uma redução no balanço do braço direito, enquanto o braço esquerdo continuava balançando normalmente”, disse Killeen.
Isso prova que as mulheres são melhores na realização de multitarefas?
“Acho que isso mostra que as mulheres mais jovens podem ser capazes de resistir à interferência desses dois comportamentos bastante específicos”, disse a pesquisadora.
Ainda não foi demonstrado se esse padrão se aplica a outras atividades simultâneas – como dirigir e falar ou andar e enviar mensagens de texto ao mesmo tempo, por exemplo.
Também não está claro se a habilidade de uma mulher de realizar o desafio para o cérebro no seu passo normal lhe confere qualquer vantagem sobre os homens, disse Killeen.
O fato de as mulheres com mais de 60 anos perderem a capacidade pode fornecer uma pista sobre a origem desta capacidade, disseram os pesquisadores.
Os receptores cerebrais do hormônio feminino estrogênio podem captar um maior impulso em mulheres mais jovens, que o possuem em maior quantidade.
“Alternativamente, as mulheres muitas vezes demonstram ter habilidades verbais um pouco melhores que os homens” e podem achar o teste Stroop mais fácil, disse Killeen por e-mail.
“No entanto, isso não explica por que as mulheres mais velhas apresentam o ‘padrão masculino’ após 60 anos”, ressaltou.
Estudos anteriores discordaram sobre se as mulheres são realmente melhores do que os homens em fazer mais de uma tarefa ao mesmo tempo.
Foto: Em estudo, voluntários fizeram caminhada em esteira enquanto realizavam tarefas verbais; mulheres jovens se saíram melhor que homens (Foto: CDC/ Amanda Mills)
Fonte: G1 – Por France Presse em 26/01/2017 09h04