22/11/2018
O risco de sofrer com diabetes está ligado ao consumo exagerado de açúcar, uma relação consolidada na área médica. Mas cientistas buscam entender melhor os efeitos de tipos distintos dessa substância no organismo humano. Com esse objetivo, uma equipe do Canadá descobriu, analisando dados de indivíduos com e sem a doença metabólica, que bebidas que contêm frutose — um tipo de açúcar natural — e foram adocicadas artificialmente apresentam danos maiores à saúde do que alimentos com a mesma composição, como doces e cereais. Os investigadores acreditam que os resultados do estudo, publicado na revista especializada British Medical Journal (BMJ), podem ajudar a construir estratégias de saúde pública para reduzir o consumo de bebidas açucaradas e, dessa forma, contribuir para a prevenção do diabetes.
Os autores do estudo explicam que o papel dos açúcares no desenvolvimento do diabetes e de doenças cardíacas é alvo de um amplo debate na área médica, e evidências crescentes sugerem que a frutose pode ser particularmente prejudicial à saúde. “A frutose está presente naturalmente em uma variedade de alimentos, como frutas, vegetais, sucos naturais de frutas e mel. Ela é adicionada em refrigerantes, cereais matinais, produtos de panificação, doces e sobremesas e recebe o nome de açúcares livres”, explica, em comunicado, John Sievenpiper, principal autor do estudo e pesquisador do Centro de Nutrição Clínica e Modificação de Fatores de Risco do Hospital St. Michael, no Canadá.
Segundo Sievenpiper, as orientações dietéticas atuais recomendam a redução de açúcares livres, mas os detalhes relacionados aos efeitos da frutose no organismo humano ainda não foram bem esclarecidos. Para resolver essa dúvida, o cientista canadense e sua equipe analisaram os resultados de 155 estudos que avaliaram o efeito de diferentes fontes alimentares com frutose nos níveis de glicose em pessoas com e sem diabetes. Os voluntários foram monitorados por até 12 semanas e submetidos a exames, como o de hemoglobina glicada ou HbA1c (quantidade de glicose ligada aos glóbulos vermelhos), glicose em jejum e insulina em jejum.
Os resultados mostraram que a maioria dos alimentos contendo frutose, natural e/ou adicionada, não tem efeito prejudicial sobre os níveis de glicose no sangue quando eles não são muito calóricos. A análise também revelou que frutas e sucos de frutas, quando menos calóricos, podem, inclusive, ter efeitos benéficos na glicemia e no controle da insulina, especialmente em pessoas com diabetes. “As fibras de frutas podem ajudar a entender o baixo índice glicêmico (IG) de frutose em comparação com outros carboidratos por abrandar a liberação de açúcares”, explica a equipe no artigo divulgado.
Por outro lado, vários alimentos que continham frutose e excesso de energia pobre em nutrientes à dieta, como açucares e corantes, mostraram efeitos nocivos à saúde. Nesse caso, as bebidas e os sucos de frutas açucarados causaram os piores impactos. Os pesquisadores ainda não sabem explicar por que as bebidas seriam mais agressivas que outros alimentos adocicados, mas acreditam que os resultados já servem de alerta.
“Até que mais informações estejam disponíveis, os profissionais de saúde pública devem estar cientes de que os efeitos nocivos dos açúcares de frutose sobre a glicose no sangue parecem ser mediados pela energia e a fonte de alimento”, frisa Sievenpiper. “Essas descobertas podem ajudar a orientar as recomendações sobre importantes fontes alimentares de frutose na prevenção e no controle do diabetes.”
Cláudia Cozer, endocrinologista do Hospital Sírio-libanês (São Paulo), acredita que a pesquisa canadense aborda um tema que tem sido bastante estudado e mostra resultados que condizem com orientações que são dadas pelos médicos. “O Brasil está entre os países que mais consomem açúcar e, em relação às bebidas, isso serve como um alerta para um hábito comum de sempre adoçar os líquidos, seja o café, seja o chá. Você compra o chocolate em pó e, para prepará-lo, ainda usa mais açúcar”, ilustra.
A médica ressalta que um ponto importante da pesquisa é ajudar a conscientizar as pessoas dos costumes que podem ser maléficos ao organismo “Temos de alertar as pessoas sobre como esses pequenos hábitos do cotidiano podem prejudicar a saúde. Tenho pacientes que mergulham o picolé de fruta no açúcar. As pessoas precisam ter cuidado com a forma como elas consomem os alimentos, têm de pensar nos produtos que são adicionados. Os xaropes, por exemplo, são outro nome para o açúcar”, alerta.
“Isso serve como um alerta para um hábito comum de sempre adoçar os líquidos, seja o café, seja o chá. Você compra o chocolate em pó e, para prepará-lo, ainda usa mais açúcar”
Cláudia Cozer, endocrinologista do Hospital Sírio-libanês (São Paulo)
Fonte: Fonte: www.correiobraziliense.com.br