O DREX, a moeda digital brasileira que está em fase de testes, vai facilitar as operações comerciais quando estiver em pleno funcionamento, assim como também poderá ser uma alternativa melhor de pagamento na compra de imóveis. A avaliação foi feita pelo coordenador dos trabalhos sobre a moeda digital do Banco Central, Fabio Araujo.
“O DREX tende a facilitar as trocas entre moedas, e aí as trocas comerciais vão a reboque, porque você tem um preço melhor definido para os ativos dos países”, explicou ao Fabio Araújo, do Banco Central.
Em junho, o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, afirmou ser “muito contra” o uso de moedas comuns para estimular o comércio entre países.
Na ocasião, o chefe do BC avaliou que essa seria uma ideia antiga para tratar de uma questão que não existe mais. E explicou que, com o avanço dos pagamentos digitais, não haveria necessidade de uma moeda comum para ter eficiência comercial.
O DREX, quando estiver em pleno funcionamento, segundo o BC, também vai colaborar para democratizar o acesso das pessoas aos serviços financeiros e baratear o custo das operações.
“O acesso a crédito e investimento ainda é muito restrito. As pessoas ainda têm muita dificuldade. A gente enxerga que, com essa tecnologia, as pessoas vão ter outras oportunidades de investimento, que não só a caderneta de poupança. Elas vão poder fazer isso de maneira ágil, simples e vão poder acessar crédito mais barato, de uma maneira muito menos burocrática”, explicou Fabio Araujo, do BC.
Como é hoje e como vai funcionar o DREX no comércio
Fabio Araujo, coordenador do DREX do BC, explicou que as moedas digitais terão impacto maior no caso de negociações entre moedas que não são tradicionalmente aceitas no exterior, como o real.
Ele lembrou que já há troca direta no comércio com a China (sem intermediação do dólar), o principal parceiro comercial brasileiro, assim como com a Argentina, todos operando com moedas locais.
Entretanto, no comércio entre países com moedas menos aceitas internacionalmente, o técnico do BC explicou que há diferença de preços entre as plataformas existentes, o que dificulta as operações comerciais. Por isso, nesses casos, o dólar é usado – o que encarece as operações.
“Hoje os mercados estão todos segmentados, então é difícil encontrar quem está operando com essa moeda. Tem um preço em um mercado, outro preço em outro. Eu não sei em qual mercado eu vou, preciso ter um correspondente específico em cada um dos mercados. Por isso que você fala assim, ‘me dá dólar, que eu sei qual o preço’. É fácil encontrar no mercado que eu vou usar”, avaliou o técnico do BC.
Com as moedas digitais, com o DREX, Araujo explicou que a tecnologia envolvida facilitará a convivência das moedas dentro de uma plataforma – o que possibilitará a “formação de preço” entre as que hoje não tem tanta liquidez internacional. Isso evitará a necessidade de se usar uma terceira moeda, como o dólar, e tornará essas operações mais baratas.
“As pessoas estão negociando e formando um preço naquele mercado, e tem alguém negociando aquela moeda em outro lugar. Se não for líquida o suficiente, o preço vai ser diferente do primeiro mercado, você tem essas segmentações. Quando você está no ambiente DLT, se eu começo a fazer um ambiente de negociação de uma moeda e o preço descola de outro, eu faço uma conexão entre esses dois mercados naturalmente [buscando um preço em comum]”, disse Fabio Araujo.
O chamado ambiente DLT, das moedas digitais, se caracteriza por um banco de dados com informações compartilhadas e sincronizadas, espalhadas em diferentes localizações.
Compra e venda de imóveis
Em palestra realizada em julho deste ano, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou que o custo de contratação de registros será muito mais baixo com a moeda digital no futuro.
“Pessoas não vão querer comprar imóveis sem moeda digital, pois gera um contrato por centavos. Melhora toda parte de registro e contratos, que hoje ainda é um sistema caro e ineficiente no Brasil”, afirmou o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em julho.
Campos Neto estava se referindo aos chamados “contratos inteligentes” (smart contacts), que são autoexecutáveis, menos burocráticos e sem intermediários, fechados por meio da tecnologia “blockchain” – uma espécie de grande “livro contábil” que registra vários tipos de transações e possui seus registros espalhados por vários computadores.
Nesses contratos, por exemplo, será possível vender um imóvel com uso da moeda digital brasileira, o DREX, ao mesmo tempo em que a transferência do bem é concluída de forma automática. Com isso, se elimina a insegurança de o valor ser pago e o imóvel não ser transferido, e possibilita um custo menor (centavos por contrato).
De acordo com Fabio Araujo, coordenador da moeda digital do BC, para que seja possível fazer a compra e venda de imóveis com moedas virtuais, ainda é necessário fazer ajustes na legislação brasileira, assim como também tem de haver interesse do mercado na “digitalização” desses ativos (casa própria).
O técnico do BC também explicou que a privacidade desses ambientes tem de ser compatível com a LGPD (Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais) e tem de haver garantia de que os imóveis realmente existem e estão disponíveis nas condições anunciadas.
“Se não tem o cartório, eu digito lá um ‘token’ [bem digital] de uma casa, que eu sei programar, e digo que essa casa existe, está um lugar muito bom, que vale R$ 6 milhões por exemplo. Quem é que garante que isso corresponde realmente a uma casa com essas descrições? Tem de ter alguém para certificar isso. Depois que fez a certificação, o registro, as transações de troca ficam muito mais simples. Mas você sempre precisa ter alguém para garantir que a informação que foi inserida é válida”, explicou ele.
Prazo de implementação
Em agosto deste ano, o Banco Central iniciou a fase de testes do real digital. Após 50 dias, 500 operações haviam sido fechadas com sucesso, sendo que 11 instituições financeiras estavam operando na rede.
De acordo com o BC:
A primeira fase de testes apenas para instituições financeiras, relacionada com a privacidade e a “programabilidade” das operações, se encerra em maio de 2024.
Passada essa fase, se for encontrada uma solução adequada com o mercado e compatível com a legislação brasileira, serão incorporados produtos pelas instituições financeiras dentro da plataforma do DREX a partir do final de 2024 e início de 2025.
No decorrer de 2025, pode ser aberta a fase de testes para a população, mas não para todos cidadãos e envolvendo somente alguns produtos selecionados – com volume limitado.
A operacionalização do DREX sem restrições, para toda população, pode ocorrer de 2026 em diante mas a data correta ainda não está definida – pois vai depender do andamento dos testes.
A incorporação de produtos à plataforma, por sua vez, vai depender do apetite do mercado, ou seja, independe do Banco Central – que é apenas o regulador.
Fonte: G1 / Postado em 25/09/2023 03h00