08/05/2018
De todos os tipos de câncer de mama, aquele mais temido por pacientes e médicos é o triplo negativo. Isso porque ele não contém o receptor de estrogênio, nem o de progesterona e a proteína HER2, principais alvos do tratamento da doença. Assim, sobram poucas opções terapêuticas. Contudo, uma droga usada para tratar osteoporose impediu, em ratos, a evolução das células cancerígenas. Os resultados foram publicados na revista Journal of Experimental Medicine e ainda são preliminares, mas, segundo os pesquisadores, trazem esperança de que, no futuro, seja possível combater o tumor em humanos.
O estudo começou com a análise de mais de 5 mil amostras de cânceres de mama, que renderam uma descoberta essencial para o trabalho: a relação de uma enzima chamada UGT8 com o tumor triplo negativo. “Vimos que a superexpressão da enzima ocorre especificamente no câncer de mama triplo negativo, e está altamente correlacionada com maior grau tumoral (agressividade), maior tamanho do tumor, e pobre sobrevida em pacientes com câncer de mama”, explicou ao Correio o pesquisador Chenfang Dong, professor da Escola de Medicina da Universidade de Zhejiang, na China, e principal autor do estudo.
O cientista informou que a UGT8 é responsável pelo primeiro passo na produção de sulfatide, um tipo de gordura encontrada na superfície das células e que está associada à progressão do câncer. Em testes com ratos, Dong enxertou células de câncer de mama triplo negativo nos animais e tratou as cobaias com ácido zoledrônico — substância usada para tratar uma variedade de doenças ósseas, incluindo a osteoporose.
Metástase
Os pesquisadores confirmaram que o ácido zoledrônico inibiu a ação da UGT8, o que reduziu, na cobaia, os níveis de sulfatide e, consequentemente, a progressão da doença. O tratamento com a droga prejudicou a capacidade das células de invadir os tecidos, o que impediu a metástase. “Nós somos os primeiros a identificar que o ácido zoledrônico é um inibidor direto da UGT8, e a inibição farmacológica da UGT8 pela substância suprime a migração, a invasão e a metástase pulmonar das células triplo negativas”, detalhou Dong. “A natureza altamente agressiva e a ausência de terapias efetivas para o câncer de mama triplo negativo tornam alta prioridade elucidar o que determina sua agressividade e identificar potenciais alvos terapêuticos”, complementou o autor.
Para os especialistas, os resultados abrem as portas para um uso futuro do medicamento no tratamento do câncer de mama triplo negativo em humanos. “Como já é aprovado para o tratamento de osteoporose e metástase óssea, ela tem o potencial de se tornar uma droga alvo valiosa no tratamento clínico desse tumor”, frisou Dong. Os autores do estudo acreditam que mais pesquisas podem dar maior validade a essa possível alternativa terapêutica. “Mais ensaios clínicos que se concentram nesses tumores específicos são necessários para avaliar a capacidade da droga e confirmar se ela pode ser uma opção no tratamento dessa doença desafiadora”, adiantou o autor.
Cautela
Leonardo Santos, cirurgião oncologista da Aliança Instituto de Oncologia, em Brasília, considerou que a pesquisa chinesa mostra dados importantes relacionados ao câncer de mama, mas ressaltou que os resultados precisam ser vistos com cuidado, por ainda serem experimentais. “Essas pesquisas são muito precoces para termos conclusões, porque se trata de dados colhidos em ratos. Precisamos de estudos em humanos para termos certeza de que esses benefícios da droga se repetem”, destacou o especialista. “Mas são informações importantes, como a relação dessa enzima e os tumores”, acrescentou.
O especialista também ressaltou que o uso de um medicamento já utilizado na área médica é um ponto positivo da pesquisa chinesa. “Essa droga já é utilizada para outras doenças ósseas, como um adjuvante para prevenir a perda óssea, o que ocorre em muitos tumores, como o de mama e o de próstata. Os ossos são um dos principais locais atingidos pela metástase”, lembrou.
Fonte: www.correiobraziliense.com.br