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Enem: professores dão dicas de como estudar literatura ouvindo música

Estudante pode se preparar nesta reta final que antecede as provas analisando as letras dos clássicos da MPB; veja as dicas

Professores das disciplinas de língua portuguesa e literatura explicam como o estudante pode se preparar para as questões de literatura nesta reta final que antecede o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) ouvindo música.

Diogo Mendes é professor de literatura da plataforma Descomplica e diz que as canções de protesto da década de 60 e o movimento tropicalista auxiliam entender o contexto da ditadura militar no Brasil.

“Uma boa forma de conhecer grandes nomes da MPB (Música Popular Brasileira) e ainda se preparar para o Enem, que se aproxima, é entrar em contato com a produção cultural da década de 60”, conta. Mendes destaca nomes que marcaram a época e que são importantes até hoje como Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil, Roberto Carlos, Os mutantes etc. “Assim como ocorre em nosso contexto atual, aquele período foi marcado por grandes tensões e antagonismos. O cenário musical daquela época teve o desafio de dar conta de um tempo marcado por muitas e diferentes censuras à liberdade de expressão”, explica.

O professor ainda destaca que vale analisar as canções de protesto, carregadas de metáforas críticas, que, a partir de 1968, tentavam driblar a censura imposta pela ditadura.

“O Tropicalismo também foi impulsionado pelo movimento da contracultura, que promoveu uma revolução musical, ao propor outros tipos de ritmos, letras construídas a partir de técnicas cinematográficas, com colagens de imagens e diálogo com a crítica à literatura e política da época, Pop Art e a comunicação de massa”, esclarece.

Uma dica dada por ele aos estudantes é que procurem pela playlist nas plataformas digitais Uma noite em 67. “É um documentário e livro de mesmo nome que já foram, inclusive, trabalhados em uma questão do Enem de 2017”, conta.

Raps e músicas do Feminejo relacionadas a pautas sociais

Ainda segundo Mendes,  canções mais engajadas, como os raps e músicas do feminejo, o sertanejo feminino, exploram questões de desigualdade social, racismo, machismo, valores morais, entre outras questões relacionada a estrutura social. “Os debates sobre essas pautas sociais, cada vez mais, ganham importância na sociedade e o Enem é uma prova que não se isenta em abordá-los”, finaliza.

Já o professor de língua portuguesa, Marcos Sagatio, do Colégio Rio Branco, lembra que as letras de músicas, poemas ou poemas musicados sempre fizeram parte do Enem, nas provas de linguagens e seus códigos. “Cada um dentro de seu estilo musical, com contexto histórico e postura estética e ideológica, importantes referências para a cultura brasileira e universal”, esclarece o educador que cita quatro tópicos para estudar a partir da música:

1. Aspectos estilísticos: a prova de linguagens e seus códigos prevê, entre as habilidades e competências exigidas, o conhecimento de recursos expressivos que fazem parte de textos. “A função da linguagem é poética, para que se enquadre no gênero literário”, explica.

Para o professor, o reconhecimento das figuras de linguagem (tanto as de palavras, como, de metáforas e metonímias (sonoras, aliterações, assonâncias, etc) e de sintaxe (hipérbatos, anáforas, anacolutos, etc) e sua contribuição para o efeito musical e significativo do texto é um aspecto que não pode ser negligenciado pelos estudantes. “Lembrando que outros recursos poéticos como rima, número de sílabas poéticas dos versos (metrificação) e refrão também fazem parte desse conhecimento. Além disso, a poesia surge vinculada à música”, diz

2. Variação linguística: o Enem também prevê que o estudante reconheça a diversidade linguística do idioma. “Algumas letras de música trazem marcas típicas de uma dada região (no vocabulário, por exemplo), de classes sociais específicas (a linguagem de grupos culturais de pouca escolaridade, mas que têm manifestações culturais bastante ricas), de épocas anteriores quando o uso do português era diverso do atual”, explica Sagatio.

Outro ponto detalhado pelo professor é que as letras de músicas não seguem a norma culta da língua. “O compositor opta por um uso mais coloquial (mais condizente com o registro falado e não escrito) e informal justamente para privilegiar o ritmo musical do texto”, diz. Um exemplo dado por Sagatio é quando um compositor opta por escrever “entre você e eu”. “A forma da norma culta escrita seria “entre você e mim”, pois o pronome “eu” rima com uma palavra que aparece anteriormente no texto. Caso se optasse pela forma “mim”, apesar de gramaticalmente correta, se perderia o recurso da rima, tão importante para o ritmo de um texto poético e musical”, avalia.

3. Intertextualidade:  o conhecimento da diversidade de discursos que circulam na sociedade e identificar quando um texto cita outro, seja para reafirmar o sentido, criticar ou negar (paródia) é outro aspecto exigido pela prova do Enem. “Uma das marcas registradas da literatura moderna e da arte em geral é a intertextualidade e a identificação das relações intertextuais, fundamental para a compreensão de um texto”, comenta. “Por exemplo, o Hino Nacional, cuja letra já foi tema de uma questão do Enem, cita, em uma de suas passagens, versos do icônico poema Canção do exílio do escritor romântico Gonçalves Dias, a saber, ‘Nossos bosques têm mais vida’, ‘nossa vida’ no teu seio ‘mais amores'”, destaca.

4. Consciência social: “É uma prova cidadã em sua essência. Isso significa que o estudante deve ter consciência da sociedade em que está inserido, dos problemas, dificuldades e desafios presentes no país”, finaliza o educador ao mencionar que isso é um dos papéis da arte, incluindo a literatura e a música, em que aponta para essas questões, despertando a atenção da sociedade.

Fonte: www.noticias.r7.com / Postado em 20/10/2022 – 02H00

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