O Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) está chegando aí, em 5 e 12 de novembro, trazendo consigo grande apreensão acumulada em 6,7 milhões de mentes por todo o Brasil. Os números colocam a avaliação entre as maiores provas de acesso ao ensino superior do mundo. É como se toda a população paraguaia estivesse pensando nas fórmulas mais complicadas de física ou, quem sabe, como se o dobro da população uruguaia estivesse apreensiva quanto ao tema da redação. Engana-se, contudo, quem imagina a figura do candidato apenas como aquele adolescente ainda em vias de terminar o ensino médio e entrar na vida adulta com um bom curso. Há muitos outros perfis envolvidos no exame.
O de Silvio Sousa é um deles. Aos 61 anos e aposentado após carreira bem-sucedida em comissão especial da Câmara dos Deputados, ele deseja mais, muito mais. Formado em direito pela Universidade do Distrito Federal (UDF) e em economia no UniCeub, Silvio partilha hoje do sonho de muitos jovens com os quais divide a sala de cursinho: ser aprovado em medicina por meio do Enem. O desejo, porém, remonta aos tempos de colégio. “Sempre desejei, desde antes da minha primeira graduação. Tem coisas que a vida exige da gente até o fim. Para mim, é a profissão mais nobre: os campos em que a medicina auxilia o ser humano são vastíssimos”, diz.
O objetivo final de carreira é um dia exercer a urologia. “É uma área em que a medicina parou durante algum tempo. A demanda foi crescendo, não se sabia que haveria tantos males acometendo homens, especialmente depois de uma certa idade. Hoje, precisa-se, mais do que nunca, de especialistas na função”, avalia.
Cinco horas de estudo pela manhã na sala do pré-vestibular, uma pausa para o almoço e a volta aos livros até as 17h, com o auxílio de cursos on-line com aulas virtuais. Depois, duas horas de academia e revisão de conteúdo antes de dormir. Assim é a preparação dele, que classifica o sossego em casa como “um verdadeiro inferno”. “Aposentadoria não é profissão. Se eu ficar sem fazer alguma coisa, eu fico louco”, conta Silvio. “Sinto que nós, que alcançamos espaço no serviço público a duras custas, acabamos perdendo o foco em novos horizontes.”
Filhos como colegas
O filho Armando de Oliveira e Silva, 30, cursa direito e a filha Gabriela Oliveira e Silva, 27, pretende ingressar em nutrição. Eles, agora, se tornaram parceiros de estudo do pai. Silvio Sousa afirma que, no começo, falavam que ele era “doido” por buscar a volta às salas de aula. “Eu me preparo em casa também. Mas, se eu passo muito tempo junto aos livros, minha mulher vem exigir de mim outras atividades”, brinca.
Goianésia, a cidade natal de Silvio, é um dos 1.724 municípios que recebem provas do Enem em todo o país. Ao todo, são 12.416 locais de prova e 182.202 salas de aplicação. “O exame é ótimo, pois sai da mesmice dos vestibulares tradicionais, que comprometem o aluno com conteúdos pesados que nem sempre têm a ver com a vida real. O Enem inova e desafia ao pedir para você raciocinar”, avalia o aposentado.
Silvio Sousa integra os 63,5% de candidatos que já concluíram o ensino médio e estão em vias de fazer o exame. Outros 26,5% terminam este ano. Há aqueles também que buscam adquirir experiência para os próximos exames. São os chamados “treineiros”, que representam cerca de 9%. Ele é um dos quase 3 milhões de homens que fazem o exame em 2017. As mulheres representam a maioria dos participantes. Elas são, aproximadamente, 3,9 milhões, ou seja, 58,6% do total.
Do total de participantes, apenas 29,7% são pagantes. Os demais conseguiram isenção da taxa de inscrição, seja por meio da Lei nº 12.799/2013 ou do Decreto nº 6.135/2007, ou por estarem no ano de conclusão do ensino médio. De acordo com declaração na inscrição, 46,9% dos participantes são da cor/raça parda, seguidos por branca (35%), negra (13,3%), amarela (2,3%) e indígena (0,7%). Ao todo, 1,9% preferiram não declarar cor/raça.
Fonte: www.correiobraziliense.com.br / postado em 31/10/2017