09/08/2018
Prepare-se para a catarata porque, à medida que envelhecemos, as chances de ter a doença aumentam. O sintoma que chama a atenção é a visão nublada, ou embaçada, com a sensação de estar fora de foco. Isso ocorre porque o cristalino vai se tornando opaco. Ele funciona como uma lente atrás da íris e sua transparência permite que os raios de luz atravessem e alcancem a retina para formar a imagem. No entanto, como explica o médico Haroldo Vieira de Moraes Júnior, membro do Conselho Brasileiro de Oftalmologia e professor titular da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), o processo de esclerose do cristalino varia de pessoa para pessoa: “pode levar de meses a anos”.
Na opinião do oftalmologista, ainda há muita desinformação sobre a catarata, apesar da sua prevalência entre os 60 e 80 anos. “Pacientes diabéticos formam parte de um grupo de risco, já que a hiperglicemia é comprovadamente um fator desencadeante da catarata. Além do envelhecimento, o uso contínuo de cortisona e até a exposição indiscriminada ao sol podem facilitar o surgimento da doença”, afirma. Considerando que quem está entrando nos 60 nem sequer usava protetor solar na adolescência… A boa notícia é que, há 35 anos, uma cirurgia de catarata envolvia internação, anestesia geral e um pós-operatório que incluía dormir de barriga para cima. Inclusive esperava-se a catarata “amadurecer”, ou seja, a visão chegava a um nível de embaçamento grande até o problema ser corrigido. Hoje técnica é a da facoemulsificação, realizada com ultrassom, e anestesia através de colírios. Apesar de alguns cuidados para evitar infecções, a rotina praticamente não se altera.
Pesquisadores da Universidade de Toronto avaliaram mais de 500 mil indivíduos acima de 65 anos submetidos à cirurgia e verificaram que a taxa de acidentes de trânsito graves diminuiu em 9% nesse grupo. Curioso, como lembra o doutor Haroldo de Moraes Júnior, é que, para tirar uma carteira de habilitação de condutor amador, o Detran exige apenas 60% de visão em um olho: “a decisão de submeter à cirurgia está diretamente relacionada à qualidade de vida, mas esbarra no custo. Cerca de 160 milhões de brasileiros não têm plano de saúde e, embora esteja disponível no sistema público, atualmente há um déficit de 250 mil cirurgias. O mais desanimador é que a catarata é primeira causa de cegueira reversível”. O oftalmologista chama a atenção para o risco que a população corre ao fazer os chamados “exames grátis” realizados em óticas. Na verdade, no estabelecimento há um técnico em optometria que mede o grau para a fabricação de uma lente. “Não há medição da pressão ocular ou exame do fundo de olho, fundamental para quem tem diabetes ou outras doenças. A pessoa pode achar que está se submetendo a um exame oftalmológico completo, mas não é o que acontece”, alerta.
No sistema privado, uma cirurgia básica fica em torno de R$ 5 mil. É possível aproveitar a intervenção e também corrigir miopia, hipermetropia, astigmatismo e presbiopia, mas, quanto mais sofisticadas forem as lentes para esse “combo” de soluções, mais caro o procedimento. O médico ressalta que o cuidado com a visão deve começar na maternidade, com o teste do olhinho, que checa se o recém-nascido tem catarata congênita ou algum tumor. “Na infância, deve se averiguar se a criança é portadora de miopia, hipermetropia ou astigmatismo, que podem comprometer seriamente seu rendimento escolar. Entre as doenças da vida adulta, o glaucoma é a mais preocupante, porque leva à cegueira, e essa, irreversível. Quem tem casos na família tem o risco aumentado em oito vezes, por isso é indispensável o acompanhamento do paciente”, acrescenta.
Fonte: G1