15/08/2017
As mais de 4,3 mil farmácias de Goiás estão na expectativa para receber e poder comercializar o teste rápido para detectar infecção pelo vírus HIV. O produto, que se chama Action e é o primeiro a ser registrado e liberado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil, deve estar disponível já na próxima semana. Especialistas citam avanço na iniciativa, mas ponderam os ‘riscos psicológicos’ para os pacientes que receberem diagnóstico positivo.
De acordo com o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtos Farmacêuticos do Estado de Goiás (Sincofarma), João Aguiar Neto, a previsão é que a partir do próximo dia 20 o Action comece a chegar nos estabelecimentos da capital goiana.
“Inicialmente, esse prazo era no final de julho. Porém, como trata-se de apenas um fabricante, houve uma procura muito grande e dificuldade em atender toda a demanda. Alguns estados das regiões sul e sudeste já estão vendendo o teste”, disse ao G1.
A assessoria de imprensa da Orange Life, fabricante do produto, confirmou em nota ao G1 que “por diversas questões burocráticas e a alta demanda” houve atraso na distribuição. No entanto, ressaltou que até o final de agosto todas as farmácias do país devem receber o Action.
De acordo com a Anvisa, a possibilidade o registro de um autoteste de HIV surgiu em 2015. A regra denomina que a empresa tenha um canal de comunicação que funcione 24 h para atendimento aos clientes. Na embalagem, também deve constar o número do Disque Saúde: 136.
Teste tradicional x farmácia
João Aguiar Neto explica que o teste de farmácia deve custar entre R$ 60 e R$ 70 e pode ser adquirido por qualquer pessoa. O resultado se dá de forma idêntica ao exame de gravidez: se o marcador apontar uma linha, não há infecção, já no caso de duas, a pessoa possui o vírus.
A forma de fazer é muito semelhante a um exame de glicemia: após um pequeno furo no dedo, o sangue é colocado sobre um filete para ser analisado. O resultado sai em até 20 minutos e, conforme Neto, tem 99,9% de confiabilidade. No entanto, mesmo assim, é orientado ao paciente a realização do exame sanguíneo posteriormente.
A embalagem contém um lenço embebido em álcool 70% para desinfetar a área, uma lanceta para fazer o furo e o filete para o depósito do sangue. O teste só tem eficácia se realizado ao menos 30 dias após a relação sexual de risco ou a situação que motivou a suspeita.
Em relação ao teste tradicional, existem algumas diferenças (veja tabela abaixo). Chamado de Elisa, trata-se também de um exame de sangue.
Ele é gratuito e pode ser feito em qualquer unidade de saúde da rede pública, mas o resultado sai em cerca de dois dias.
Fator psicológico
Para o médico infectologista Boaventura Braz de Queiroz, o avanço na criação de um teste rápido para detecção da doença é muito importante para a medicina. Porém, ele alerta para a possibilidade de problemas psicológicos em pacientes que descobrirem, desta forma, que estão infectados.
“Vem para somar, mas merece muito cuidado. Minha dúvida é: quem vai estar atendendo essa pessoa? Teria de existir um padrão mínimo aceitável para orientá-la senão podemos ter uma situação de risco. Qualquer paciente que receber um diagnóstico positivo de HIV tem que ser bem amparado. É uma coisa complicada”, ponderou.
Presidente do Conselho Regional de Psicologia – 9ª Região (CRP09), a psicóloga Ionara Rabelo destaca que é preciso ter uma “teia” especializada para dar suporte aos pacientes que apresentarem resultado positivo. “É preciso ser acompanhado, tanto na esfera clinica, quanto na psicológica”, pontua.
Ela explica que uma pesquisa realizada em 2011 concluiu que 62% dos entrevistados usariam o autoteste. No entanto, a justificativa não foi para saber rapidamente se possui ou não a doença, mas sim, para poder ter relações desprotegidas com determinado parceiro ou parceira.
“Quem faz esse teste que manter a confidencialidade. Mas ele não pode servir de caminho simplesmente para as pessoas terem relações sexuais sem se proteger”, salienta.
A farmacêutica Simone Divina da Silva partilha da mesma opinião. Ela afirma que a unidade onde ela trabalha ainda estuda a aquisição do produto por este e outros motivos.
“O impacto na vida de uma pessoa é muito grande. Fazer sozinha no balcão de uma farmácia ou em casa é complicado. A gente não sabe como vai ser a reação. Também temos que analisar o preço de custo para ver se compensa”, explica.
Por outro lado, a também farmacêutica Ludmylla Costa e Silva vê mais pontos benéficos na inovação. Ela diz que a pessoa deve se sentir mais à vontade fazendo o teste na farmácia. Porém, a aquisição ainda deve ser alvo de preconceito.
“Muitas pessoas ainda ficam com vergonha de comprar itens básicos como preservativo, absorvente e pílula do dia seguinte. Acho que com esse teste não vai ser diferente”, pontua.
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Fonte: G1 Goiás