11/01/2018
Os pacientes do Centro de Referência em Oftalmologia (Cerof) passam a noite e chegam a ficar mais de 24h na espera para garantir uma senha e tentar um atendimento médico, em Goiânia. Alguns idosos de até 90 anos chegam a esperar mais de 6 horas na fila. Muitos dormem na calçada e usam cobertores e papelões para se proteger do frio.
O aposentado Antônio Cândido Silvério tem 90 anos e chegou na fila às 6h de quarta-feira (10). Após seis horas de espera, ele ainda não tinha conseguido pegar uma senha. Porém, disse que não iria desistir. “[Vou ficar] até as pernas aguentarem”, afirmou.
O Cerof é uma das principais unidades que atendem pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em Goiás. São cinco mil atendimentos por mês e são distribuídas apenas 200 senhas por dia: 100 no período da manhã e o restante às 12h.
Enquanto esperam do lado de fora, os pacientes se organizam para ninguém desrespeitar a fila de espera. Eles anotam em um papel a ordem de chegada de cada um, assim ninguém passa na frente do outro.
As pessoas aguardam sem nenhuma estrutura, como tentas para proteger do sol ou chuva, bancos ou sequer banheiros. Os pacientes usam o que encontram pela frente para tentar aliviar a espera: sentar sobre papelão, capacetes e até muretas.
O aposentado Henrique Pereira da Silva tenta desde segunda-feira (8) uma senha. Ele mora em Hidrolândia, a 30 km de Goiânia e está indo e voltando para casa todos os dias. A esperança é conseguir um retorno médico.
“O tratamento aqui era bem humano, todo mundo gabava. Em um instante eles organizavam. Agora, fica todo mundo debaixo da chuva”, disse.
Quem espera na fila conta que a forma de atendimento mudou este ano. Antes, os pacientes eram divididos de acordo com o problema de saúde de cada um. Em um dia, as senhas eram apenas para quem procurava tratamento para catarata, em outro, apenas para glaucoma, por exemplo. Porém, agora, todos são misturados na mesma fila, aumentando o número de pessoas que procuram a unidade diariamente.
“Quando se marcava por doença, uma pessoa tinha que vir várias vezes, porque às vezes tinha mais de um problema. Agora, quando é por pessoa, se ela tiver um problema em várias subespecialidades, ela só vem uma vez, então é para facilitar”, disse o superintendente em exercídio José Miguel de Deus.
No entanto, a direção do hospital reconhece que vai ser preciso mudar novamente a forma de distribuição das senhas para tentar resolver o problema. “Outra possibilidade também é a marcação por telefone, que é muito mais fácil, para ver se a gente consegue achar um sistema que provoque menos desconforto ao usuário na hora de marcar a consulta”, completou.
Fonte: G1 GO