A geriatra Claudia Burlá escreveu artigo para o boletim de abril da International Association for Hospice and Palliative Care que traduz o cenário dramático enfrentado por um grande contingente de pacientes que sobreviveram à Covid-19. “As pessoas focam no tratamento mas, após a recuperação da fase aguda e crítica, o cuidado intensivo se faz indispensável”, diz. Referência no campo dos cuidados paliativos, a médica ressalta que a doença é relativamente branda para 80% dos que são infectados, mas que, entre os 20% que apresentam complicações, uma parcela significativa terá sequelas que podem ser bastante graves.
“Muitos pacientes recebem alta com fraqueza muscular severa depois de um longo período acamados. Não há remédio para isso, o tratamento é treinamento funcional e alimentação. Pessoas que eram saudáveis estão agora numa situação de máxima dependência. Além de reaprender a andar, outros também têm que reaprender a comer e até respirar, necessitando de muita fisioterapia e fonoterapia. São fatores que podem levar à deterioração da saúde e a novas internações num prazo de 90 dias”, explica.
Outro aspecto inquietante é o declínio cognitivo abrupto depois da Covid, afirma a geriatra. “Indivíduos que não tinham comprometimento cognitivo aparente passaram a apresentar sinais de demência. E quem já tinha demência enfrenta um quadro galopante de declínio. Quando o paciente tem demência pela Doença de Alzheimer, essa queda se dá progressivamente ao longo do tempo, o que permite um planejamento terapêutico. Com a Covid, a aceleração do processo pega a família de surpresa, com a atribuição de garantir cuidados intensivos a uma pessoa que estava bem há poucas semanas. Não há curva de aprendizado para isso”, analisa.
No começo do mês, a Academia Nacional de Medicina também discutiu o tema, já que profissionais de saúde têm observado de manifestações dermatológicas a distúrbios cardíacos meses depois do fim do quadro agudo da infecção. Pesquisadores recomendam a criação de protocolos clínicos e unidades de tratamento de pacientes com síndrome pós-Covid. Na ocasião, Fábio Jatene, diretor-geral do Instituto do Coração e professor da Faculdade de Medicina da USP, disse: “temos observado que o doente se cura da Covid-19, sai da UTI mas permanece no hospital, pois não consegue voltar para casa. Temos que pensar num modelo que passei a chamar de unidade pós-Covid, onde teríamos atendimento ambulatorial, hospital-dia e algumas áreas para internação para os que não têm condições de alta”.
Fonte: G1 / postado em 20/04/2021 06h01