07/03/2019
A longevidade tem muitas lições a dar e, no campo da saúde, há duas questões que estão relacionadas. Ambas apontam na mesma direção: a necessidade de uma política permanente de cuidados que permitam que todos nós consigamos trilhar nosso caminho com dignidade até o fim. A primeira questão é o cuidado primário de saúde, que vai do saneamento básico à nutrição adequada, da vacinação ao controle de doenças. Aqui entra o inestimável trabalho dos clínicos gerais e médicos de família, que estão na linha de frente da prevenção e do diagnóstico precoce – e todos sabemos como é melhor, e mais barato, prevenir do que remediar.
Traduzindo em números: pesquisa realizada pelas universidades de Harvard e Stanford mostra que, para cada dez clínicos adicionais dedicados a 100 mil pessoas, houve um aumento de expectativa de vida de 51.5 dias entre 2005 e 2015, nos Estados Unidos. Quando os pesquisadores se debruçaram sobre essa relação de causa e efeito do papel desempenhado por especialistas, o aumento de expectativa de vida foi de apenas 19.2 dias. Mesmo diante dessas evidências, os EUA estimam que haverá uma grande redução de médicos generalistas por volta de 2030.
Essa é a primeira lição: para viver mais e melhor, as políticas públicas de saúde devem focar no cuidado permanente. E aí passamos à segunda questão: esse cuidado não pode ser interrompido no fim da vida. Pesquisadores do Dartmouth Institute identificaram que é alarmante o número de pessoas com doenças terminais que poderiam morrer com dignidade, seguindo seus desejos e crenças, mas têm esse direito negado.
Levantamentos anteriores já haviam mostrado que a maioria dos pacientes com enfermidades sem chance de cura preferiria morrer em casa, longe de intervenções e terapias agressivas. Entretanto, um em cada cinco morre num hospital – um em cada sete em unidades intensivas – sendo submetido a esses procedimentos. Os pesquisadores concordam que é preciso investir numa comunicação mais eficiente entre pacientes, familiares e profissionais de saúde. Catherine Saunders, líder do estudo, lembra que a população norte-americana acima dos 85 anos chegará a 20 milhões em 2050: “temos que entender o que podemos fazer para ajudar as pessoas perto do fim de suas vidas”. No Brasil, em 2060, haverá perto de 60 milhões de pessoas acima dos 65 anos. As políticas públicas têm que prever assistência para quem enfrenta uma doença irreversível e terminal – o fecho acalentado dessa cadeia de cuidados permanentes que todos merecem.
Fonte: G1