16/10/2018
Em sua cruzada contra o sedentarismo, Marcio Atalla se prepara para lançar, em novembro, o documentário “Vida em movimento”, que também será exibido em capítulos no “Fantástico” – o primeiro episódio irá ao ar no dia 4. Apesar de ter conseguido a proeza de emagrecer boa parte da população da cidade paulista de Jaguariúna, o preparador físico mais conhecido do Brasil continua buscando mais informações para manter acesa a chama de sua luta contra essa epidemia silenciosa do século XXI.
No meio do 2017, quando o entrevistei, ele se dedicava à pré-produção do filme. Ao todo, foram 45 dias de viagem, entre março e abril deste ano. No documentário, dirigido por Edu Rajabally, Atalla conversa com especialistas sobre o assunto e aponta soluções e políticas públicas para estimular as pessoas a se exercitarem mais. Um dos entrevistados é o urbanista norte-americano Jeff Speck, autor do livro “Cidade caminhável”. Speck prega a necessidade de que os centros urbanos sejam planejados em função dos pedestres, e não dos automóveis. Considera uma praga o fenômeno da expansão urbana que obriga os cidadãos a um longo tempo de deslocamento e fez o sedentarismo explodir. Segundo ele, economistas, epidemiologistas e ambientalistas lhe deram argumentos de sobra para sua cruzada. Na década de 1970, o americano médio gastava um décimo de sua renda com transporte; agora gasta um quinto, porque mora cada vez mais longe do trabalho. Na mesma época, um em cada dez americanos era obeso e hoje essa proporção é de um em cada três, e um terço das crianças nascidas depois de 200 terá diabetes, numa relação direta com o excesso de peso.
Atalla também esteve com o médico Edward Phillips, responsável pelo sistema público de saúde de Boston, e constatou como ele põe em prática suas ideias. “Na sua sala, ele alternava períodos nos quais trabalhava sentado com outros de pé, e ainda tinha pedais embaixo da mesa para pedalar quando estivesse em sua cadeira”, conta. Um bom exemplo de lugar que tomou as rédeas desse processo contra o sedentarismo é Copenhague, que já fixou para 2025 emissão zero de gás carbônico. No cargo desde 2010, o prefeito, Frank Jensen, vem trabalhando diligentemente na expansão de bicicletários. “As pessoas vão trabalhar de bicicleta e eles estão estudando como isso diminui o número de casos de doenças como diabetes e hipertensão. Nos Estados Unidos, 12% das pessoas estão matriculadas em academias, enquanto em Copenhague são 5%, mas elas andam bem mais e o país tem menos obesos”, afirma.
A Finlândia foi outra escala da equipe. Ali, educação rima com movimento. Numa sala de aula típica de Ensino Fundamental, há poucas mesas e carteiras. As crianças se sentam em bolas, como as que são usadas em sessões de fisioterapia, e têm aulas de geometria ao ar livre, vivenciando formas como triângulos, quadrados e retângulos no pátio. “O fato de estarem sempre se movimentando aumenta o rendimento escolar delas, simplesmente porque isso obedece à necessidade do corpo de se mexer”, diz Atalla. Em Nova York, a entrevistada foi Wendy Suzuki, professora de neurociência e autora de “Happy brain, happy life”, mostrando a relação entre o exercício e a manutenção das habilidades cognitivas dos indivíduos. “Manter-se em movimento tem um impacto benéfico enorme no cérebro, melhorando a memória e o aprendizado, além de trazer maior bem-estar. O ser humano foi moldado por nossos ancestrais para poupar energia, mas agora não temos mais que subir em árvores para fugir de animais ferozes. Temos que nos transformar na primeira geração a, conscientemente, trabalhar o tempo todo contra o sedentarismo”, resume.
Fonte: G1